quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Mulemba

Não sei o porquê, mas hoje deu vontade de tirar o pó desse blog. Fui a um restaurante que não conhecia, e embora a experiência não tenha sido nem perto de excelente, o lugar me chamou a atenção a ponto de dar vontade de escrever. O tal restaurante é o Mulemba, do Executive Hotel Samba, que fica do lado do mar. 

Sabia que havia um restaurante ali porque estava na lista da Luanda Restaurant Week, mas não li nada a respeito. Pela localização, imaginava um lugar iluminado, de frente pra praia, talvez algo parecido com o Origami, do Sana. Ledo engano: fiquei impressionado como um hotel naquele espaço não apenas não capitaliza a localização, como vai num sentido completamente contrário de ambientação. 



Começa no hall do hotel e se intensifica no restaurante, que fica logo no térreo/rês-de-chão: colres pesadas, decoração sombria, quadros a imitar Turner nas paredes, móveis de madeira escura e umas cadeiras transparentes em bordô. A luz, bem abaixo do aceitável, ajuda a criar, em plena Luanda, uma melancolia de Inglaterra dos anos 70, como se a gente fosse personagem de algum filme de época adaptado de John Le Carré. Aliás, um lugar vazio como esse é perfeito para conspirações como as dos livros do autor de romances de espionagem. 



Embora seja difícil não prestar atenção o tempo todo nos detalhes dessa ambientação atípica, a quebra do clima vem no menu, que te traz de volta para a Luanda de sempre e seus pratos portugueses com toques locais. Os twists angolanos, no entanto, são interessantes: entre as sopas, um gazpacho com ginguba, razoável. Das entradas, provei um tempura de camarões e legumes, aliás, de camarão (um só) e cebolas. Eu perdôo a economia, estava sequinho, sem gosto de gordura, bem crocante. Provei também uma salada de queijo, que em vez do tomate habitual da caprese, trazia berinjela. Bom. 

Prato principal: eu saí de casa querendo comer um bom risoto, e é algo que em Luanda se encontra em restaurantes de hotel. Pedi o de cogumelos e aspargos, ou espargos, como se diz aqui. Veio o de camarões, mais uma vez bem económico no que diz respeito aos camarões, mas bem razoável no todo. Na mesa, pediram também um magret de pato com legumes, estruturado com delicadeza pelo chef. Agradou. 



Na próxima vez, quero pedir o tal atum do Namibe, mesmo que tenha de dispensar o acompanhamento, um funje de milho. Não gosto de funje, mesmo. A maioria dos pratos é assim: uma carne ou peixe grelhada com um toque angolano, como o funje, a gimboa que acompanha o bacalhau, ou a moamba, em vários outros pratos.

Dentre as sobremesas, o mais local era uma salada de frutas com gelado de múcua. A essa hora da noite, preferi passar, já que não quis passar uma noite aziaga. Fui no bolo-tarte de morango e hortelã com um doce de ginguba - e torci pro morango ser do Lubango ou do Huambo, para não perder o tal twist angolano. Na próxima, tento outra coisa, já que não vale grande coisa, e o choque de sabores entre o morango e a hortelã não se concretiza. Este último elemento é só uma folha por cima, na decoração, e já está.

Se eu recomendo uma visita? Depende. Acho discreto para um jantar de negócios, talvez, mas meio deprimente no todo - as paredes cinzentas e a luz são realmente opressoras. Não sei se é porque é quarta, mas só havia alguns hóspedes jantando sozinhos, em silêncio, em mesas do canto, implorando para que não lhes fosse dirigida a palavra. O atendimento é aquela coisa: troca de pedidos, menu sem vários pratos disponíveis... Mas isso é denominador comum por aqui, então nem reclamo mais. Eu voltarei, ocasionalmente, sem maiores expectativas. 

 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

PortoFino

Tenho falado da diversidade de povos estrangeiros em Angola e de como isso se reflete nos restaurantes da cidade, mas deixei escapar um pormenor. Nos casos dos mais presentes, chineses e portugueses, há diferença dentro da diferença, ou seja, há chineses de várias regiões e restaurantes idem. Lembro, aliás, de uma traumática experiência no antigo Shanghai, onde tive a refeição mais exótica da minha vida, ao ponto do insuportável, e que não parecia em nada com a comida chinesa que conhecemos, mais próxima dos cantoneses ou da região de Pequim. Em relação aos portugueses, não notava muito a diferença, até ser levado a um restaurante que afirma, até no nome, não ser apenas uma casa lusa, e sim portuense, o PortoFino.
Amigos portugueses há muito têm me instado a experimentar uma francesinha, um prato que, fazem questão de acentuar, é do Porto, e não de Lisboa. No PortoFino, a decoração tem fotos da segunda maior cidade de Portugal, e os portuenses se sentem em casa para “tomar uns copos” e trocar o P pelo B à vontade (se você prestar atenção, essa diferença no sotaque é marcante, e os portuenses fazem questão de se diferenciar – rivalidade regionais há em todo lugar).

O PortoFino é um casarão bem agradável (uma quinta) numa rua de terra batida (uma picada) nos confins do Benfica. Chegar lá em termos de direções é bem fácil: vá em direção ao Benfica margeando o mar até ver na sua esquerda um BFA. Pegue o próximo retorno e entre nessa rua vizinha ao banco, e siga direto, sem parar, até avistar o restaurante à sua esquerda. Está bem sinalizado (cuidado com esse tempo de chuva para não atolar, se estiver de carro pequeno).
O restaurante tem dois ambientes, um interno e um externo – e praticamente todo mundo fica do lado de fora. Fui num sábado à noite, e havia boa música ao vivo. Nunca fui a Portugal, mas é como se estivesse lá: com exceção de alguns poucos angolanos, todo mundo português. Aliás, até os rapazes que atenderam a nossa mesa eram portugueses. Se você é brasileiro como eu e não aguenta mais encontrar as mesmas caras, taí uma boa opção.

Depois dessa distância toda, eu não poderia pedir outra coisa: vamos lá comer a francesinha. Há, claro, um problema. Só como carne branca e não bebo álcool, e a receita da francesinha é bem isso: pão, ovo, carne, batata frita e um molho à base de um tipo de cachaça de uva, uma espécie de grappa portuguesa, a bagaceira.




Há um problema, vírgula. Não há: o PortoFino tem uma alternativa para gente estranha como eu. Eles servem uma francesinha vegetariana com legumes, couve, cogumelos, e, toque de mestre, uma rodela de abacaxi em cima. Eu nem sou fã de misturar doces e salgados, mas a fruta casa perfeitamente com o prato e com o molho. Aliás, quanto ao molho, tive mesmo de fazer uma concessão, mas valeu a pena. É delicioso.



A francesinha enche a barriga, muito. Mesmo em versão vegetariana é um prato bem pesado, então não posso opinar aqui sobre entradas e sobremesas. E quanto às bebidas, fiquei num suco de laranja, mas há toda espécie de vinho português, além de sangria. Quando comentei com amigos que havia adorado o restaurante, me disseram que tiveram mau atendimento, mas isso definitivamente não aconteceu comigo. Tudo veio muito rápido e estava tudo excelente. A voltar várias vezes.

P.S.: O restaurante tem um site, com um cardápio (ementa) em pdf, mas a que recebi lá era bem diferente e mais simples, como você vê na foto mais acima.







quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Habesha

Eu sou de Salvador, no Brasil, e uma das coisas que mais me impressionaram em Luanda é seu caráter de Babel em tempo real. Não se trata de uma cidade cheia de descendentes de imigrantes, como São Paulo ou mesmo Salvador, em menor escala, mas num lugar onde a imigração acontece agora, em tempo real. A imigração mais visível é temporária, de portugueses, brasileiros e chineses, que têm tempo de expiração curto por aqui, mas há diversos bolsões de gente de outros países que chegam aqui para ficar, especialmente de países africanos. Obviamente, toda essa mistura se reflete nos sabores da cidade, que ganham em diversidade: uma das viagens gastronômicas mais legais que se pode fazer em Luanda é ir ao Habesha, um restaurante etíope no meio de umas ruas de terra pros lados da Combatentes.




Na verdade, só soube o nome do restaurante no final, quando veio a conta. Trata-se de uma casa comum, sem qualquer indicação de nome na fachada, nem muitos carros estacionados para dar a pista. No Foursquare, o local está identificado apenas como "Restaurante Etíope". Na vizinhança, ninguém conhece o lugar, o que dá a sensação estranha de que vamos entrar mesmo num lugar secreto. Como eu sou camarada, ajudo vocês com o mapinha abaixo. Pega a Cônego Manuel das Neves, no sentido oposto ao do Maculusso; a Edel vai estar à sua direita. Depois da Edel, pega a primeira à esquerda, entrando nas ruas de terra, e conta seis cruzamentos. O lugar vai estar logo depois da esquina à direita. Na dúvida, pergunta.









Chegando lá. o clima de inusitado continua. O restaurante tem cinco mesmas no máximo, e fica dentro de uma casa maior, residencial, onde os etíopes resolveram montar o restaurante. No entanto, a decoração é bem bonita, e faz você esquecer que você está num quintal coberto. Estranhamente, o lugar também não é refúgio da comunidade etíope: só havia nas outras mesas europeus falando francês, inglês, e, acho, alemão, além de uns angolanos bem descolados e bem vestidos, trendsetters felizes por este lugar ainda ser escondido.

 

Pedir a refeição é um pouquinho mais complicado. As duas moças que nos atenderam falam português muito mal, e inglês também não é uma opção. Não há menu, e ninguém vai te explicar o que é comida etíope. Na verdade, eles perguntam se quer carne, peixe, frango ou tudo. Pedimos tudo, e é exatamente isso que vem para a mesa.





Pequenas porções muito bem temperadas (o tempero está entre o árabe e o indiano) de carne peixe e frango e vegetais (três tipos de batata, feijão, folhas) num grande base de uma espécie de pão típico da Etiópia, o injera. A porção da foto deu bem pra quatro pessoas. Algumas porções são muito apimentadas, mas no geral estava tudo muito bom, especialmente o frango e as batatas. Além da base, comemos o tal injera individualmente, já que você serve-se da porção no centro da mesa e enrola no pão, como se fosse um burrito. O pão é pesado, e no fim, o seu sabor torna-se enjoativo, então é bom usar com parcimônia.







Depois dessa grande refeição, a sobremesa da casa surpreende: pipoca? É curioso, e tal, mas é só pipoca. A seguir, vem o café, aparentemente um café especial típico que é servido pela moça na mesa com alguma cerimônia, num bonito jogo de porcelana. Eu não bebo café há anos, e fiz uma pequena exceção, mas não deveria ter feito. Talvez não seja para o meu paladar, mas me pareceu ter gosto de queimado, em vez de torrado. Mas valeu pela mise-en-scène. Gastronomicamente, basta ficar com a refeição principal mesmo, que é muito saborosa e providencialmente diferente.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Ciao & La Bella Nápoles

Em geral tenho postado opções de restaurantes aqui que extrapolam a noção de um preço justo, e que só se tornam mais razoáveis quando pensamos que de fato estamos em Luanda e essa é a cidade mais cara do mundo, e que até bibocas chinfrins se acham no direito de te meter a faca no pescoço e te assaltar com os valores absurdos estampados nos seus cardápios. Quem acaba ficando por muito tempo por aqui, no entanto, acaba achando os seus providenciais portos seguros pra comer uma refeição boa e barata. O meu porto seguro, atualmente, é o Ciao, uma pizzaria que fica na Ingombota para onde vou sempre que quero comer... não, não é a pizza que me faz ir lá, e sim as massas.




Não há nada de especialmente sofisticado nessas massas, ou qualquer receita que desafie um paladar mais gourmet. Não, o Ciao é comfort food italiana, feita por um chef vindo diretamente da Bota, o que se reflete na qualidade da preparação dos pratos, mas não na variedade. Não seria esse o obejtivo mesmo, já que num ambiente familiar, com cara de cantina e toalhas de mesa quadriculadas em vermelho e branco, o que basta é ser saboroso, e não complexo.






Eu, por exemplo, não me canso de ir lá apenas para comer spaghetti alho e óleo, por módicos 1500 kz. A massa está sempre impecável, al dente, com o tempo de cozedura perfeito. O que mais posso querer? Já que não como carne vermelha, acabo sempre pedindo alho e óleo, arrabiata (bem apimentada, mais que o normal) e a minha preferida de todas, putanesca, com bastante azeitona. Há uma receita maravilhosa que costumo pedir sem a linguiça: orelhinhas de massa com brocólis e cogumelos. Atenção que essas massas são servidas apenas ao jantar. No almoço, apenas prata do dia e obviedades lusoangolanas. 




É tudo muito simples no lugar, mas o bom gosto é evidente. A pizzaria fica numa esquina próxima à Igreja do Carmo, com prédio cor de laranja. No térreo, quem vê através do vidro encontra apenas uma pastelaria, mas o restaurante mesmo está no primeiro andar, após um breve lance de escadas. O que você vai economizar na massa pode aproveitar para gastar numa boa entrada. Eu, particularmente, adoro o antipasto italiano, um mix de pães, frios e vegetais servidos numa só bandeja, bem grande.

*

A depender do dia, você também pode ter boa sorte no La Bella Nápoles, um italiano que fica na Rei Katyavala, Maculusso, mais ou menos entre dois restaurantes libaneses, o King Kabab (sic) e o Tropical (o primeiro é bom; evite o segundo). Não confundir com outra unidade do La Bella Nápoles, que fica na ladeira em frente ao Cine Tropical, e que funciona apenas servido pizza junto a um outro restaurante italiano geminado, o Don Castellana, que é excelente. Aparentemente, são todos do mesmo dono, mas o La Bella Nápoles da Katyavala tem um menu notadamente mais pobre que o Don Castellana, como se fosse uma versão lite.












No térreo, aberto, o clima é de confusão, especialmente no almoço, quando as pessoas se viram o prato do dia e saem com pressa, de volta aos seus trabalhos. O restaurante, em tese, mais chic, também fica no primeiro andar, embora não haja clima que sobreviva a uma televisão ligada na parede. O menu tem mudado bastante, mas na última vez comi uma bruschetta e uma massa de frutos do mar, honestas, mas nada realmente especial.

sábado, 3 de agosto de 2013

Sushi Point

O atendimento nos restaurantes em Luanda, salvo honrosas exceções, costuma ser muito ruim. Depois de algum tempo a gente passa a relevar, com um pouco de condescendência: "isso é Angola...". O problema é que às vezes a coisa passa tanto dos limites que você acaba saindo do restaurante sem sequer ter conseguido comer. Ontem, na reinauguração do Sushi Point, acabei dando um WO após uma hora e vinte minutos esperando a comida. Não tem como passar a mão na cabeça diante de tanto despreparo.

O Sushi Point é um restaurante japonês que abriu bem recentemente, dentro do condomínio Palanca, e agora se mudou para o Vila Araújo, em parceria com um restaurante português que já existia no local. Apesar do atendimento ser um fiasco, o Sushi Point tem conseguido estar sempre cheio graças à presença constante de bandas brasileiras, que tocam música da terrinha pra galera que precisa se convencer, por algumas horas, que não está a viver no estrangeiro. Faz parte do pacote do banzo, eu entendo.

A música sempre toca alto, e goste-se ou não do som (uma hora você vai gostar e a outra não, já que o repertório costuma ir de neosertanejo a pop-rock dos anos 80), o volume está sempre uns decibéis acima do normal, fazendo com que a gente tenha que conversar gritando um pouco.

Como a música virou show, e não ambientação, é natural que o Sushi Point tenha muito mais clima de barzinho pré-balada que acidentalmente serve comida, e não um restaurante a sério. Você sai de casa pra ver alguns amigos, matar a saudade de casa, mas se o seu lance for comida mesmo, esse não é o seu lugar.

Dessa vez eu não consegui comer, mas quando o restaurante estava no Palanca, pedi um temaki (pra entrar no clima, já que o lugar é bem mais uma temakeria que um restaurante), sashimi e niguiri. Naquele dia a comida chegou com um atraso de uma hora, e ainda chegou errado, com garçons confusos, que não sabiam se havia polvo na cozinha, etc. Fiquei bem irritado, mas a comida chegou, e pela foto dá pra ver a qualidade do salmão. O sashimi chegou despedaçado, mal cortado.



Ontem, para evitar transtornos, pedi um combinado, já que, pensei, eles devem funcionar melhor nessa base do pacote, com menos pedidos. Ledo engano. Passavam ao nosso lado barca atrás de barca, como só as mesas grandes tivessem prioridade, e nada do nosso pedido chegar. Os novos parceiros do projeto vinham à mesa, justificar o atraso dizendo que não esperavam esse movimento, mas o Sushi Point vinha funcionando cheio semana após semana, sem qualquer melhoria.

Eu, se fosse o dono, não insistia nesse improviso de louco de colocar um restaurante para funcionar assim, na tora, sem gente preparada para atender nem uma cozinha que dê conta dos pedidos em tempo hábil. Óbvio que com a casa cheia e o dinheiro entrando, a tendência é querer continuar, mas a paciência do público tem limite. E se a aposta for música e convívio, a moda também passa, especialmente quando as pessoas escutam a mesma banda todo fim de semana, por meses seguidos. A hora de se profissionalizar é agora.

Para quem quiser ver de perto, o Vila Araújo fica na mesma Rua da Maxi, só que do outro lado, logo antes do Hotel 3J (que tem um restaurante bem razoável; qualquer dia eu falo dele aqui). Abaixo, o cardápio.


 





terça-feira, 9 de julho de 2013

Pizzaiolo


Talatona é uma terra de ninguém. Não tem gente na rua; não tem lojas, comércio, praças ou espaços de convivência pública. Só há pistas largas, prédios e condomínios. Enfim, é mais um não-lugar nessa onda de não-lugares que se espalha por todo o mundo, onde as pessoas se escondem atrás de grades e confundem isolamento com conforto. Ainda assim, isoladas, as pessoas precisam comer, mas agora em vez de irem aos restaurantes, os restaurantes vão até elas, abrindo dentro dos condomínios. É o caso da Pizzaiolo, pizzaria que já havia mencionado aqui como a única concorrente (quase) à altura da Cappriciosa em Luanda. 


A Pizzaiolo fica no condomínio Jardins de Talatona, um dos mais antigos de Luanda Sul. São vários prédios, uma boa área de circulação e o restaurante está à frente e à esquerda da entrada, após a piscina (quase sempre vazia). Um pouco antes, um pintor vende quadros naif diferenciados em relação àqueles da Feira do Benfica, mais bonitos. Apesar do espaço, se você não mora no condomínio tem que estacionar do lado de fora mesmo, mas é um lugar seguro, com vigilantes à porta. Ninguém chega pedindo gasosa, nem nada do tipo. Tem mapinha na foto (é na rua da Mundo Verde & Martal).


A pizzaria tem dois ambientes, um interno e um externo, e a sua escolha terá prós e contras. Fora: há fumantes, os assentos são de concreto. Dentro: mais confortável, mas bem mais barulhento se estiver cheio, já que o espaço é pequeno. Como tenho amigos que ainda fumam (ahem, Leandra, ahem), fico do lado de fora na maioria das vezes.


Vamos às pizzas (clique na foto acima pra ver o cardápio em detalhe): se na Capricciosa os nomes estavam associados a regiões de Angola, na Pizzaiolo cada sabor é inspirado por um país do mundo. A Angola tem camarão, a Brasil tem picanha, a Grécia tem anchova... Não são pizzas lá muito ortodoxas, mas eu gosto do risco em alguns dos sabores. Nas fotos abaixo, dá pra ver o tamanho das pizzas individuais inteiras e uma fatia da pizza grande.


Gosto de algumas esquisitas, como a Noruega, que tem como recheio bacalhau com natas. É inacreditável, mas funciona. Outra muito boa (e não é batizada com nome de país) é a Pizzaiolo, a pizza da casa, com frango e amêndoas. Ainda assim, devo confessar: em 90% das vezes que vou à Pizzaiolo fico com a Suíça, ou seja, quatro queijos. A massa nem sempre está boa: muitas vezes o recheio solta-se da base, que fica parecendo um pão seco. 

 

As pizzas são servidas em dois tamanhos, individual e grande, mas mesmo a individual já chega tranquilamente para duas pessoas em estágios normais de fome. O restaurante também serve algumas massas e carne, mas ninguém pede. Praticamente só sai pizza. E dentre as sobremesas, nada de especial. Nem faz falta. O clima é descontraído e tem mais cara de barzinho do que de restaurante, então pedir doce aqui seria só uma formalidade desnecessária.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Al-Amir


Tá com fome? Tá com pressa? Má notícia. Luanda não tem um fast-food a cada esquina. Nada de McDonald's e Burger King... Mesmo as cadeias que já chegaram ao país, Bob's e KFC, só têm duas lojas: uma no shopping e a segunda na Ilha e no Aeroporto, respectivamente. Pela manhã, a opção são as pastelarias, cheias de doces portugueses, mas se você quiser fazer aquele lanche rápido, comer um bom sanduíche ou matar aquela fome às 11h da noite, você só tem uma escolha: comida libanesa. Em Talatona ainda há poucas opções (basicamente o KFF, e dois restaurantes na entrada do Nova Vida), mas na cidade são vários os lugares abertos até meia noite e que trocam o hamburger pela fahita. O melhor deles e mais tradicional é o Al-Amir. 


Aliás, as casas de fahita já não são exclusividade da comunidade libanesa. Até pela falta de opções, a fahita pegou por aqui, e já são vários os estabelecimentos angolanos que tentam imitar o sanduíche, quase sempre trocando o pão árabe pelo pão normal. Outros, verdadeiramente libaneses, como o Ana Plaza, já abriram mão dos pratos mais tradicionais e apostam tudo na fahita. É um fenômeno local, com todo tipo de qualidade. Eu, que sou mais careta, vou sempre ao Al-Amir por um simples motivo. É o melhor hommus da cidade.

O Al-Amir fica perto do Largo do Primeiro de Maio, onde está a estátua de Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola. Indo direção à Av. Combatentes, vire à esquerda no Chamavo e pronto, o Al-Amir estará à sua direita. O lugar é igualzinho aos outros libaneses: um réchaud, os libaneses gritando entre si na cozinha aberta, um clima de gordura no ar, televisão ligada no futebol ou na TV5 Monde e gente entrando e saindo o tempo todo. Em segundo ambiente, mais para dentro, é bem mais calmo, mas eu prefiro ficar no meio da confusão mesmo, olhando as pessoas.


Como havia falado, o hommus é excelente, e eu sempre começo por ele. Como é um dos poucos libaneses que ainda servem vários tipos de comida, há muitos patrícios – que se concentram lá e no Al-Dar. Ao contrário de lugares como King Kabab, o hommus do Al-Amir vem só com pão, sem acompanhamento de salada. É leve, suave, sem exagerar nos temperos; é comum o hommus estar com gosto de alho mais forte que o normal, mas não aqui. Duas pessoas partilham a entrada tranquilamente, até porque o sanduíche vem rápido. 


Justamente o sanduíche: todo mundo pede fahita, e o prato se popularizou tanto por aqui que nem sei mais qual a receita original. Cada lugar serve de um jeito, virou praticamente um prato angolano, em clássico luandense. Já vi até com batata frita dentro. No Al-Amir, na maioria das vezes, há carne ou frango, cebola, tomate, pimentão, picles, e uma maionese misturada com abacate, meio guacamole. É bem condimentado, e em geral eu peço outra coisa.

Os meus preferidos são o Francisco – é uma fahita com um molho mais leve, menos temperos, um pouco de milho – e o Chinese Picante, que, pelo gosto, incorpora um pouco de molho de soja e tem mais pimentões, sem o picles e o tal molho de abacate. Você pode pedir o sanduíche puro, ou acompanhado com batata frita e salada. Se tiver comido o hommus antes, recomendo que não peça acompanhamentos. É muita comida.


Eu sou um amador, vocês sabem, e não posso julgar o quão autenticamente libanês esse menu é em termos dos sanduíches, mas há vários outros pratos que atestam a legitimidade dessa cozinha: a kafta, os charutinhos de folha de uva... E se você é brasileiro como eu, vai com fé que tem kibe. Ultimamente, em vez do sanduíche, tenho pedido falafel com salada ou, melhor ainda, falafel no pão, como um sanduíche. Crocante, sequinho, impecável.


Já havia dito que os libaneses são os únicos lugares pra comer abertos até mais tarde. Por isso mesmo, você pode comer com mais calma nessas horas. Não costumo comer sobremesa no Al-Amir, mas em geral há bolos no mostruário. Não gosto, são bastante secos e esponjosos, mas você pode tentar o Al-Dar ou o Bel France se quiser completar a refeição até o fim, com sobremesa. Como a comida salgada realmente mata a fome com autoridade, acabo dispensando.