O Shogun fica na Ilha, e parte dele dá direto para a praia. Vários restaurantes da Ilha são assim: você é atendido nas mesas e desce direto para a areia, numa área estranhamente limitada como sendo do restaurante. Não é: em tese, qualquer pessoa pode ficar lá, mas o cidadão comum, que não está ali para consumir, acaba procurando trechos livres, sem a vigilância dos guardas. Por causa disso, até, esses restaurantes fazem muito sucesso entre estrangeiros e a classe alta angolana.
É comum ver estrangeiros na areia até o limite do restaurante; em seguida, angolanos. É algo que me faria pensar em apartheid, se não houvesse também angolanos do lado de cá da praia, com a diferença que eles têm muito dinheiro. O Shogun não é diferente: até pelos preços bem salgados, o público é o que chamam de "selecionado", e usa-se a palavra sem qualquer pudor.
Ambiente à parte, estamos mesmo em um restaurante muito bom, de ótimo atendimento. São quatro (novamente) ambientes: um restaurante fechado em forma de estufa de vidro, circular; a parte de fora do mesmo restaurante, ao ar livre, sobre um deck de madeira; o teppaniyaki, que é basicamente um balcão em meia lua, sem mesas, onde se come apenas grelhados (cardápio diferente do restaurante), também dentro de uma caixa de vidro; e a própria praia, com espreguiçadeiras, guarda-sóis e algumas mesas. Vamos falar aqui da experiência do restaurante, na primeira caixa de vidro.
O qualidade deste menu é ser básico e muito bom. Não tem variedade, não tem sushis malucos, não tem nada esdrúxulo. De entrada, começamos com uma sopa de peixe, boa mas forte demais, e um misoshiro, que não está no cardápio. Se você pedir, eles trazem lá do bar em meia lua. Entradinha campeã: tataki de salmão, muito provavelmente o ponto alto da noite.
Em seguida, o econômico (nem tanto) combinado para duas pessoas. Basicão e delicioso, sushi e sashimi de salmão e atum, muito bem cortado, o que não é comum aqui. Não raro o sashimi despedaça, tanto por inabilidade do sushiman, quanto por questões de acondicionamento, suponho. Com a energia caindo toda hora e geradores nem sempre confiáveis, acho que o peixe importado congela e descongela, perdendo a consistência e ocasionalmente provocando diarreias. Com certeza esse não é o caso do Shogun. Estava tudo impecável.
Curioso é que o público angolano, mesmo o com mais grana - que frequenta esse tipo de restaurante -, não tá acostumado com a comida japonesa. Numa mesa ao lado, com quase dez pessoas, só duas comeram, e o fato de saberem usar os hashis causou espécie aos demais. No resto das mesas, a maioria absoluta era de estrangeiros.
Pra finalizar, vamos pecar pelo excesso: tempura de sorvete, ou, como explica o garçom, "gelado frito". É basicamente impossível de encarar sozinho se você comeu sopa, entrada e prato principal. Sem contar que mesmo pra quem comeu pouco deve ser uma sobremesa peso pesado. Começa muito bom, mas fica rapidamente enjoativo. Divida com alguém ou peça outra coisa.
Atenção: novamente chegamos sem reserva, e só conseguimos uma mesa de canto. Em fins de semana a reserva é mesmo fundamental: 931756580.