quinta-feira, 28 de março de 2013

O Caril

Como se pode ver no post de apresentação abaixo, a ideia desse blog é velha, mas a execução nunca realmente arrancou. Até agora. Comecemos pelo O Caril, um dos dois restaurantes indianos com alguma proeminência na cidade, junto com o Broadway - se não me engano, são os dois únicos. Comi n'O Caril pela primeira vez essa noite, após dar com a cara na porta do Shogun, o melhor japonês da cidade. Às oito da noite, todas as mesas vazias, mas todas reservadas. Fomos para O Caril, ali perto.

Explicando a geografia de Luanda para quem não conhece: há um grande número de restaurantes na turística Ilha de Luanda, que na verdade é uma estreita faixa de terra paralela à baixa da cidade. Antes, a ilha era uma ilha de verdade, mas, após o aterro no ponto mais próximo entre os dois lados, virou uma península, e esse intervalo de água com a cidade virou uma baía. Pois bem, tanto o Shogun quanto O Caril ficam na Ilha.

Enquanto a maior parte dos restaurantes desta zona estão total ou parcialmente a céu aberto, em frente à praia, O Caril fica exatamente no meio da faixa de terra, sem dar para o mar aberto nem para a baía. Quem passa vê à direita apenas a placa com o nome do restaurante, mas a entrada fica numa ruazinha lateral, e o restaurante é na verdade o subsolo de um hotel do qual é independente, o Palm Beach.

Traduzindo para brasileiros: caril é curry. O tempero é muito usado aqui, não exatamente por causa dos indianos, e sim, claro, por causa da presença portuguesa e as influências culinárias entre as colônias, no caso, com Goa. No caso desse restaurante, os donos são mesmo indianos, e não há como ter qualquer dúvida assim que a gente entra no recinto, que tem todos os clichês de exagero que a gente associa a esse país.

O LUGAR


O ambiente é dividido em dois níveis, com mesas mais altas nas laterais e um as mais baixas no centro. O teto espelhado, o espaço amplo e os detalhes de decoração dão a impressão de que o restaurante foi instalado numa boate de muito sucesso nos anos 70, um ponto de luxo do período imediatamente pós-colonial. Curiosamente, minha mesa foi a única a estar ocupada durante toda a noite, mas, segundo os funcionários, não se trata de decadência. Às sextas e sábados eles lotam, o que compensa toda uma semana de movimento fraco.


Outro lance notável é que o indiano-maître nos atendeu em inglês imediatamente, algo que também acontece no Broadway. O cara fala português, mas provavelmente o público é em sua maioria estrangeiro não-lusófono. Angolano com certeza esse público não é, afinal eles costumam ser bem conservadores nos hábitos alimentares, raramente fugindo à comida local e à portuguesa. 

A COMIDA

  
Pois bem, eles não sabem o que estão perdendo. Começamos com a prova de fogo de qualquer indiano, a chamuça. Provei a de frango e de vegetais (ervilhas e cebola, basicamente) e estavam muito boas. Havia a opção de chamuça e outros pratos com carne, o que me pareceu estranho, já que nenhum outro indiano que já frequentei serve. Ou talvez essa carne do menu não seja vaca. Não perguntei. Ainda de entrada, uns bolinhos de espinafre realmente estupendos, no formato de cookies, e uma tiras de frango bem apimentadas. Antes dos pratos principais, ainda, muito pão indiano, com sabor a cebola, alho, queijo e hortelã. O de cebola era o melhor, de longe. 


Pratos principais: pedi um camarão com molho de especiarias e coco. Serve pouco, mas eu já tinha comido tanto antes que fiquei cheio logo no começo. Foi uma ótima escolha, porque tudo é muito picante, e o coco deixa a refeição quase doce, curando a boca. Ah, acompanhei tudo com um muito necessário lassi, o iogurte indiano. Ainda pedimos um frango grelhado com molho de iogurte, que é bom, mas fica melhor sem o iogurte, e um frango com curry e castanhas, bem razoável. Acho que o melhor prato foi o meu mesmo.


Para a sobremesa não há tantas opções, mas você não precisa realmente escolher quando se tem kulfi à disposição. Kulfi é o tal sorvete indiano misturado com especiarias, uma delícia sem fim. Foi só a segunda vez que provei (a primeira foi em Joanesburgo, num restaurante árabe-indiano, ou de indianos islâmicos, ou de comida indiana halal, enfim) e acho que estava ainda melhor que na estreia.

Pra finalizar, se você ainda tiver espaço na barriga, um chá. O garçom vai te trazer a caixinha da Delta para você escolher entre os sachês com as opções de sempre. Rejeite e peça chá indiano de verdade, e eles vão te servir um chá preto com leite realmente típico, e que provavelmente fica lá guardado, reservado para os donos. É uma excelente despedida. 

2 comentários:

  1. Mandou bem Saymon, ótima dica para estrear o blog, eu estive no Caril uma vez e ameiiiiiii, tudo delicioso e pra mim alegria não muito apimentado como comum nos restaurantes indianos!!! Um outro da linha diferente que amava era aquele chines na entrada da ilha, mas não sei se ainda existe.
    beijo

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    1. Provavelmente você está falando do Chez Wou, mas agora reabriu do lado dele um bem antigo também, chinês, A Gruta. Vão virar posts.

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