Tenho falado da diversidade de povos estrangeiros em Angola e de como isso se reflete nos restaurantes da cidade, mas deixei escapar um pormenor. Nos casos dos mais presentes, chineses e portugueses, há diferença dentro da diferença, ou seja, há chineses de várias regiões e restaurantes idem. Lembro, aliás, de uma traumática experiência no antigo Shanghai, onde tive a refeição mais exótica da minha vida, ao ponto do insuportável, e que não parecia em nada com a comida chinesa que conhecemos, mais próxima dos cantoneses ou da região de Pequim. Em relação aos portugueses, não notava muito a diferença, até ser levado a um restaurante que afirma, até no nome, não ser apenas uma casa lusa, e sim portuense, o PortoFino.
Amigos portugueses há muito têm me instado a experimentar uma francesinha, um prato que, fazem questão de acentuar, é do Porto, e não de Lisboa. No PortoFino, a decoração tem fotos da segunda maior cidade de Portugal, e os portuenses se sentem em casa para “tomar uns copos” e trocar o P pelo B à vontade (se você prestar atenção, essa diferença no sotaque é marcante, e os portuenses fazem questão de se diferenciar – rivalidade regionais há em todo lugar).
O PortoFino é um casarão bem agradável (uma quinta) numa rua de terra batida (uma picada) nos confins do Benfica. Chegar lá em termos de direções é bem fácil: vá em direção ao Benfica margeando o mar até ver na sua esquerda um BFA. Pegue o próximo retorno e entre nessa rua vizinha ao banco, e siga direto, sem parar, até avistar o restaurante à sua esquerda. Está bem sinalizado (cuidado com esse tempo de chuva para não atolar, se estiver de carro pequeno).
O restaurante tem dois ambientes, um interno e um externo – e praticamente todo mundo fica do lado de fora. Fui num sábado à noite, e havia boa música ao vivo. Nunca fui a Portugal, mas é como se estivesse lá: com exceção de alguns poucos angolanos, todo mundo português. Aliás, até os rapazes que atenderam a nossa mesa eram portugueses. Se você é brasileiro como eu e não aguenta mais encontrar as mesmas caras, taí uma boa opção.
Depois dessa distância toda, eu não poderia pedir outra coisa: vamos lá comer a francesinha. Há, claro, um problema. Só como carne branca e não bebo álcool, e a receita da francesinha é bem isso: pão, ovo, carne, batata frita e um molho à base de um tipo de cachaça de uva, uma espécie de grappa portuguesa, a bagaceira.
Há um problema, vírgula. Não há: o PortoFino tem uma alternativa para gente estranha como eu. Eles servem uma francesinha vegetariana com legumes, couve, cogumelos, e, toque de mestre, uma rodela de abacaxi em cima. Eu nem sou fã de misturar doces e salgados, mas a fruta casa perfeitamente com o prato e com o molho. Aliás, quanto ao molho, tive mesmo de fazer uma concessão, mas valeu a pena. É delicioso.
A francesinha enche a barriga, muito. Mesmo em versão vegetariana é um prato bem pesado, então não posso opinar aqui sobre entradas e sobremesas. E quanto às bebidas, fiquei num suco de laranja, mas há toda espécie de vinho português, além de sangria. Quando comentei com amigos que havia adorado o restaurante, me disseram que tiveram mau atendimento, mas isso definitivamente não aconteceu comigo. Tudo veio muito rápido e estava tudo excelente. A voltar várias vezes.
P.S.: O restaurante tem um site, com um cardápio (ementa) em pdf, mas a que recebi lá era bem diferente e mais simples, como você vê na foto mais acima.
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