segunda-feira, 15 de abril de 2013

Sabor de Texas


Há poucos americanos em Luanda, a maioria na área do petróleo. Os coitados não tem um fastfood que preste, mas se eles não podem comer hamburger, ao menos os gringos sulistas podem matar o banzo com uma boa comida mexicana, no Sabor de Texas, que fica numa rua transversal do Cruzeiro/Miramar, que vai dar direto no Cemitério das Cruzes. Há muitos americanos morando por ali, especialmente a galera que faz parte da super infra da embaixada americana, e ao que parece, esse pessoal adotou o restaurante como segunda casa. Anda lotado, com gente esperando do lado de fora.
O lugar é acanhadíssimo, um balcão e cinco mesas, mas a decoração, embora tímida, tem algum estilo, com motivos tex-mex, mapas antigos e adornos que parecem mesmo objetos de cena de algum faroeste. Faltou a porta de mola, mas, tirando isso, o clima é mesmo um salloon (eu dispensava a televisão enorme), o que inclui uma garçonete insinuante, que te atende em perfeito inglês – que ela aprendeu na África do Sul, claro. 


É ela e mais ninguém no atendimento. Quando tem que servir alguém sai detrás do balcão, e inclina-se com sua bandeja de nachos. Ficamos sentados no balcão, por falta de mesas. O lugar esvaziou em seguida, mas ficamos no balcão, porque parecia uma experiência mais autêntica, mais roots. A gordura sobe solta e se espalha no espaço pequeno, e você sai precisando de um senhor banho. 


O cardápio é aquela coisa: fajitas (que obviamente não são as fahitas libanesas, muito populares aqui), enchiladas, tamales, tacos, mas no fim do expediente pouca coisa ainda está disponível. No dia em que fui lá o frango já tinha acabado, por exemplo, e não havia tamales. A comida demora, e me parece que eles abriram sem esperar uma demanda tão grande. A garçonete disse que já falou ao dono americano que eles precisam de um lugar maior, mas parece que ele não ouve.


Fomos tradicionais: começamos com nacho e chili, muito bons. Na falta de frango, sobrou pra mim uma enchilada de queijo, servida com arroz frito, feijão amassado (não vi bacon nem linguiça), salada de tomate e guacamole, que eu dispenso. Não sei se foram os nachos de entrada, mas me pareceu muita comida, muito consistente, para quando se tem muita fome. 


Os tacos de carne também foram aprovados pela minha companhia, mas ele só comeu um dos três tacos servidos e fez um take-away do resto. É pra encher mesmo a barriga, comida de cowboy. Claro que nem pedimos sobremesa, até porque, apesar de não ter perguntado, duvido que houvesse. Cowboy não come doce. 


Enfim, a comida é boa, mas numa segunda vez, depois de experimentar essa atmosfera gordurosa de salloon, a melhor opção é pedir a comida por telefone e entrar lá só pra buscar os pratos. Olha os telefones: 913 343424 / 926 942160. Eles oferecem serviço de catering no almoço. O melhor é ver o site deles, onde, deo gratias, dá pra ver o cardápio todo e também as opções do catering.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Brasa (com um pulinho no Zodabar)

O Sul de Luanda é uma região mais recente, cheia de condomínios, ruas largas e absolutamente nada nas ruas além de muros. Há todo o conforto que esse tipo de não-lugar costuma oferecer, mas arrumar um lugar pra comer às vezes é uma tarefa ingrata. Só restam os restaurantes de shopping, centros empresariais e uns poucos locais isolados. Se você tá a fim de comer bem, mesmo pagando um pouco mais, eu recomendo os restaurantes de hotel, como o Brasa, do apart Colinas do Sol, mesmo que eu não seja exatamente o público-alvo do local. A especialidade deles é carne.

O Colinas do Sol fica pertinho do Belas Shopping, no retorno mais próximo a ele. Frequentemente, é preciso estacionar na rua, já que poucas vagas dentro do apart, e mesmo o espaço nessa rua pode estar bem disputado, já que há uma faculdade bem próxima, a Óscar Ribas. Depois que se entra, o Brasa fica logo à direita da porta principal, mas vamos dar uma voltinha antes de chegar lá, para dar uma passada no outro restaurante do apart, o Zodabar.


Os dois locais são vizinhos, e compartilham a área aberta próxima da piscina, apenas com uma divisão. A diferença é que o Zodabar é todo ao ar livre, e tem um menu bem mais limitado, em geral focado em pratos portugueses assimilados pelo gosto angolano, como o bitoque (carne com ovo), bacalhau e grelhados. Como o nome diz, o lugar tem um DNA mais de bar, com um espaço de música ao vivo que costumava ser bem frequentado pela comunidade brasileira, antes da devagar e constante (mas ainda não muito expressiva) migração portuguesa para Talatona. Os lusos costumam ser maioria no local, ultimamente.

Eu nunca fui muito fã do Zodabar, não só porque não costumo frequentar tanto os locais de brasileiros (é preciso sair da bolha, pessoal), mas também porque sempre achei o serviço muito ruim, demorado, com um preço alto para uma comida apenas mediana. No dia em que saí de casa para escrever esse texto, pretendia ficar no Zodabar, e não no Brasa, mas o garçom me informou que em pleno horário de almoço de domingo, não estava disponível nenhuma das opções de peixe ou frutos do mar que constam no cardápio. Nada, nada. Resolvemos mudar para o restaurante vizinho, simples assim.

O Brasa tem dois ambientes: um contíguo ao Zodabar, e outro fechado. Num domingo de sol, não nos fazia sentido ficar do lado dentro, mas foi a decisão errada. Por algum motivo, assim que começamos a comer vieram as moscas, que nos atormentaram até o fim da refeição.
 

O Brasa funciona à la carte, mas com uma diferença: você pede apenas a carne. Se quiser acompanhamento, paga à parte. Eles têm o básico: arroz, feijão, farofa (com farinha musseque, e não a brasileira), batata frita, legumes. Enfim, a estrela deve ser realmente a carne, e eles têm poucas e boas opções, para quem gosta. A mais popular é a picanha, até mesmo pelo preço. Para quem vai de peixe tem uma opção de peixe fresco do dia, e, claro, bacalhau e choco, uma lula tipicamente angolana sobre a qual falo depois em mais detalhe.



Não pedimos entrada, e eu tracei o peixe do dia, uma posta de garoupa de sabor realmente maravilhoso. Aqui em Angola o peixe grelhado normalmente é servido com um molho realmente muito bom de cebola cortadinha do azeite, que dá um sabor especial sem roubar o gosto natural, como os molhos de pimenta. Estava muito bom. Na nossa mesa, a picanha também foi amplamente aprovada: tenra, macia e saborosa.


O melhor, no entanto, foi a sobremesa. Há o habitual, como brownie, petit gateau, etc, mas prefira uma especialidade angolana, o sorbet de múcua. Múcua é a fruta do imbondeiro, árvore típica da África, de Madagascar ao Senegal, também muito presente em Angola. Fora daqui, normalmente é conhecida como baobá. Nunca provei a fruta in natura, mas ao que parece ela precisa ser tratada antes do consumo, marcado muito mais pelo suco e por derivados. O sabor é ácido e forte, mas bem especial, algo entre o mesmo cupuaçu e o tamarindo. Em forma de sorbet, é uma opção de sobremesa light e refrescante, sem contar que, se você é estrangeiro, por que não experimentar um autêntico sabor local?

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Le Petit Bistro

A Baixa de Luanda é uma região que sofre com uma ocupação exclusivamente diurna. Luanda acorda cedo, e logo no início da manhã se observa a confusão de gente resolvendo problemas nos bancos, correndo para o trabalho, entrando e saindo das lojas... À noite, a baixa fica deserta, tomada por jovens bêbados, prostitutas, e gente meio perigosa. É uma pena: restaurantes bons, como o francês Le Petit Bistrot, acabam sofrendo com a sensação de insegurança que assombra a região, já que as pessoas fazem tudo para evitar o assédio de guardadores de carro e a possibilidade de serem assaltadas.

O Le Petit Bistrot, até onde eu sei, é o único restaurante exclusivamente francês de Luanda, e fica na mesma rua do BPC, do Espelho da Moda e do ultrassingular Elinga, um teatro/galeria de arte/boate que tem a melhor música eletrônica de Luanda, talvez a única (sério, as pistas aqui são muito ruins, mesmo que hoje já tenham diminuído a frequência de Sarajane, Luiz Caldas e Ivete das picapes).


Enfim, é mesmo um lugar chato pra estacionar e ocasionalmente perigoso para ir a pé, mas vale a pena conhecer o lugar, que virou um raro refúgio da comunidade francófona, a ponto do dono se dirigir aos clientes que entram primeiramente em francês. Se você não segurar a onda, ele passa pra português, com forte sotaque. O espaço é pequeno, seis mesas no máximo, com uma ambientação bastante simples e os indefectíveis quadros de Paris como o máximo de decoração.


O menu é basicamente uma cápsula de comida francesa, e aqui, como eu não como carne vermelha, não vou poder realmente opinar com propriedade a respeito do Boeuf Bourguignon e cia. Já fui ao lugar algumas vezes, e sempre peço peixe, que vem em receitas leves, mediterrâneas e muito saborosas. Para escrever esse post, resolvi variar um pouco.


Comecei com uma salada de queijo de cabra, leve e gostosa, mas as outras entradas da minha mesa foram melhores: a salada de camembert empanado estava excelente, mas, surpreendentemente, o melhor de tudo foi um tartare de peixe com um tempero espetacular, com leite de coco e coentro. Tartare de peixe, claro, é peixe cru, mas essa mistura com leite de coco não transforma a entrada num sushi baiano. Tem gosto de ceviche andino, muito bom, mas, segundo o menu, a receita tem origem no Tahiti. Chique, hein? Normalmente eu peço a sopa de peixe de entrada e, se não tiver mudado a receita, é uma excelente opção.


Pro prato principal, em geral peço linguado, mas desta vez apostei num supremo de frango ao molho roquefort. Não sei foi uma infelicidade deste dia em especial, mas o frango estava duro, ruim de cortar, e o molho em quantidade, em vez de umedecer a carne, deixava tudo enjoativo. Foi uma má escolha e eu voltarei ao peixe numa próxima visita. Na nossa mesa, no entanto, pediram lagosta thermidor, coberta com queijo, e estava realmente incrível. Ao contrário dos clichês de restaurante francês, serve-se muito bem, prato cheio. A lagosta dava para duas pessoas tranquilamente, especialmente após uma entrada mais consistente.



Sobremesa: eu já provei o petit gatêau e é impecável, mas dessa fez fui de crepe suzette com molho de laranja. Delícia, delícia. Na minha mesa acharam muito doce, mas eu não achei. Foi perfeito para neutralizar o gosto forte de queijo e terminar a refeição numa nota mais amena. Provei também a crème brûlée, bem razoável.

Enfim, no todo, o lugar proporciona uma noite bem agradável. Vale a pena sair um pouco da zona do conforto e prestigiar locais que investem numa ocupação integral da cidade, noite e dia. Hoje ele é uma exceção, mas quem sabe não seja o pioneiro de uma revitalização bem merecida?