sexta-feira, 5 de abril de 2013

Le Petit Bistro

A Baixa de Luanda é uma região que sofre com uma ocupação exclusivamente diurna. Luanda acorda cedo, e logo no início da manhã se observa a confusão de gente resolvendo problemas nos bancos, correndo para o trabalho, entrando e saindo das lojas... À noite, a baixa fica deserta, tomada por jovens bêbados, prostitutas, e gente meio perigosa. É uma pena: restaurantes bons, como o francês Le Petit Bistrot, acabam sofrendo com a sensação de insegurança que assombra a região, já que as pessoas fazem tudo para evitar o assédio de guardadores de carro e a possibilidade de serem assaltadas.

O Le Petit Bistrot, até onde eu sei, é o único restaurante exclusivamente francês de Luanda, e fica na mesma rua do BPC, do Espelho da Moda e do ultrassingular Elinga, um teatro/galeria de arte/boate que tem a melhor música eletrônica de Luanda, talvez a única (sério, as pistas aqui são muito ruins, mesmo que hoje já tenham diminuído a frequência de Sarajane, Luiz Caldas e Ivete das picapes).


Enfim, é mesmo um lugar chato pra estacionar e ocasionalmente perigoso para ir a pé, mas vale a pena conhecer o lugar, que virou um raro refúgio da comunidade francófona, a ponto do dono se dirigir aos clientes que entram primeiramente em francês. Se você não segurar a onda, ele passa pra português, com forte sotaque. O espaço é pequeno, seis mesas no máximo, com uma ambientação bastante simples e os indefectíveis quadros de Paris como o máximo de decoração.


O menu é basicamente uma cápsula de comida francesa, e aqui, como eu não como carne vermelha, não vou poder realmente opinar com propriedade a respeito do Boeuf Bourguignon e cia. Já fui ao lugar algumas vezes, e sempre peço peixe, que vem em receitas leves, mediterrâneas e muito saborosas. Para escrever esse post, resolvi variar um pouco.


Comecei com uma salada de queijo de cabra, leve e gostosa, mas as outras entradas da minha mesa foram melhores: a salada de camembert empanado estava excelente, mas, surpreendentemente, o melhor de tudo foi um tartare de peixe com um tempero espetacular, com leite de coco e coentro. Tartare de peixe, claro, é peixe cru, mas essa mistura com leite de coco não transforma a entrada num sushi baiano. Tem gosto de ceviche andino, muito bom, mas, segundo o menu, a receita tem origem no Tahiti. Chique, hein? Normalmente eu peço a sopa de peixe de entrada e, se não tiver mudado a receita, é uma excelente opção.


Pro prato principal, em geral peço linguado, mas desta vez apostei num supremo de frango ao molho roquefort. Não sei foi uma infelicidade deste dia em especial, mas o frango estava duro, ruim de cortar, e o molho em quantidade, em vez de umedecer a carne, deixava tudo enjoativo. Foi uma má escolha e eu voltarei ao peixe numa próxima visita. Na nossa mesa, no entanto, pediram lagosta thermidor, coberta com queijo, e estava realmente incrível. Ao contrário dos clichês de restaurante francês, serve-se muito bem, prato cheio. A lagosta dava para duas pessoas tranquilamente, especialmente após uma entrada mais consistente.



Sobremesa: eu já provei o petit gatêau e é impecável, mas dessa fez fui de crepe suzette com molho de laranja. Delícia, delícia. Na minha mesa acharam muito doce, mas eu não achei. Foi perfeito para neutralizar o gosto forte de queijo e terminar a refeição numa nota mais amena. Provei também a crème brûlée, bem razoável.

Enfim, no todo, o lugar proporciona uma noite bem agradável. Vale a pena sair um pouco da zona do conforto e prestigiar locais que investem numa ocupação integral da cidade, noite e dia. Hoje ele é uma exceção, mas quem sabe não seja o pioneiro de uma revitalização bem merecida?

2 comentários:

  1. morri!!!!!! vou parar de ler seu blog, isso é muita tortura! Le Petit sempre foi meu restaurante preferido em Angola. Vc esqueceu de falar dos pães do couvert!!!!!!!!!! Simplesmente divinos. Só por curiosidade comi peixe com leite de coco no Tahiti, simmm é muito bom e não tem nada a ver com a boa e velha muqueca baiana ;))))

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  2. Funciona a noite nos finds? até que horas?

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