quarta-feira, 29 de maio de 2013

Asia Lounge

Tinha um bom tempo que não conseguia comer no Asia Lounge. Na penúltima vez, cheguei, não fui atendido, e sentei a uma mesa no mezzanino. O garçom disse que não poderia ficar ali, porque aquela área estava fechada, já que só havia ele atendendo as mesas (todos os outros garçons haviam faltado). Ele não me colocou em outra mesa e eu decidi ir embora. Tchau. Acabei voltando, duas semanas depois, porque se espalhou a notícia de que o restaurante estava em reformulação, e que um chef novo (brasileiro) havia assumido a cozinha. Valeu a pena: frequentava o Asia há mais de três anos e esta última vez foi a melhor de todas em termos de comida. O serviço ainda precisa de ajustes, mas cobremos uma coisa de cada vez.


Contextualizando: se não me engano, o Asia foi o primeiro japonês da cidade, tirando o restaurante do Belas Shopping, criativamente batizado de Sushi. Já se servia sushi e sashimi em alguns lugares, de forma irregular, especialmente no Cais de 4 (sim, o nome é esse), mas não havia uma casa especializada. A comida sempre foi ok, e, até pela falta de opção, a gente superestimava as suas qualidades, especialmente porque o lugar é agradabilíssimo, com uma decoração interessante, japonesa mas moderna. São dois ambientes, como falei: térreo, ideal para quem está com mais gente, e o mezzanino, para uma atmosfera mais íntima. O Asia fica na Rua da Missão, a rua dos hotéis Trópico, Tivoli e Epic Sana. É logo abaixo desse último hotel, na quadra que começa com uma loja da Lacoste. Facinho de achar.


Voltando à comida, a diferença desse novo chef para o anterior é que ele incluiu pratos de fusão, com influência vietnamita e indiana, além de carne com cogumelos e coisas que parecem mais francesas que orientais. O que eu posso falar disso? Nada. Eu vou no restaurante japonês para comer comida japonesa, basicamente, e se eu acho que o Asia está melhor é porque a execução desse menu mais tradicional melhorou consideravelmente.




Pedimos vários pratos para avaliar esta nova fase, e o garçom não estava exatamente preparado, para isso, e muito menos a cozinha, que acabou servindo as coisas fora da ordem que havíamos pedido: o sashimi ficou por último, por exemplo, depois das comidas mais pesadas. Mas vamos lá: pedimos de entrada uma porção de shitake e outra de shimeji. O shitake, que sempre foi bom aqui, estava delicioso e bem temperado. O shimeji nunca veio, e o garçom só disse ao final de todas as refeições (como tudo começou a vir fora de ordem, pensei que poderia ainda vir mais tarde).


Em seguida, teppaniyaki de peixe com vegetais. Muito bom, mas super pesado para você experimentar com outras coisas. Aquilo serviria sozinho para uma boa refeição, especialmente à noite. O tempura de camarão, um pouco gorduroso demais, mas ainda assim bem bom, vem com os mesmos vegetais, praticamente. Tudo muito bem temperado, consistente, saboroso. Recomendo pros dias de fome, porque sushi e sashimi só enchem por 40 minutos, você sabe.



Aliás, o sushi e o sashimi só vieram depois desse monte de comida. Pausa para respirar. Não pedimos combinado. Experimentamos o ebi panado e o sakana de garoupa, com um temaki de ovas. Tudo ok, honesto. O melhor de tudo foi o sashimi, muito bem cortado. Era comum no Asia o peixe vir frágil, se desmontando, e até por isso o Shogun virou o melhor japonês assim que inaugurou. O Asia correu atrás. O peixe estava ótimo, coeso, sem cara de anteontem, sem despedaçar, e muito gostoso - tanto o salmão quanto o atum. Dá pra ver que agora há um sushiman de verdade no restaurante.


Depois disso tudo, ainda tivemos fôlego para sobremesa. Põe esse cheesecake com molho de frutas vermelhas na conta do fusion, já que não havia nenhuma opção especialmente japonesa. Tava ótimo, vá lá.


Mas enfim, mais que qualquer prato, a melhor coisa de retornar ao Asia foi ter de volta um restaurante já descartado. Numa cidade sem tantas opções assim como Luanda, a gente valoriza cada lugar: todos são importantes. Ainda mais quando são agradáveis e com um ambiente tão bacana como esse. Fiquei feliz. 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Capricciosa

Você adora pizza e está se mudando pra Luanda? Tenho uma péssima notícia. Difícil achar pizza que presta por aqui. Tenho quatro anos e meio de Luanda, quase, e já experimentei pizza em um monte de lugar. No Rialto, n'O Padrinho, no Ciao, no BaySide, no Bella Nápoles e em vários outros restaurantes da capital angolana, e sempre saí com aquela péssima impressão de estar comendo pizza pré-congelada assada em forno elétrico, ou, no caso das pizzas realmente feitas na hora, a sensação de comer queijo sobre massa de pão sírio, deixando aquela crosta seca embaixo que precisa ser cortada com força, enquanto cada movimento de braço com a faca espalha o recheio pelo prato, completamente descolado da base. Não é nem uma questão de lugares caros ou baratos: o Vitrúvio, restaurante do hotel cinco estrelas Epic Sana, tem uma pizza tão ruim quanto as que eu compro no supermercado. Diante desse quadro gastronômico desolador, destaco dois lugares onde pode se comer uma pizza não apenas decente, mas realmente muito boa. Em Luanda Sul, há a Pizzaiolo, sobre a qual escreverei depois; na cidade, a Capricciosa, tema desse post.


A Capriciosa fica na Maianga, num espaço que costumava ser uma garagem residencial - o local é estreito e comprido, com as mesas a céu aberto e pizzaria lá no fundo, com seu glorioso forno a lenha e cozinha à vista sob o comando do meu amigo Zé, que era pizzaiolo da Companhia da Pizza, uma das melhores pizzarias de Salvador. O ambiente é bem agradável, especialmente quando não há festas numa casa de eventos que fica logo em frente, e que costuma fazer muito barulho.


O cardápio é dedicado: só pizzas e calzones. É preciso prestar atenção na hora de escolher, já que as pizzas receberam um batismo local: para cada sabor, o nome de um lugar de Angola. A relação nome-pizza nem sempre é direta, mas consegui decifrar que pelo menos as pizzas com recheios de peixe ou frutos do mar têm nome de locais litorâneos: a de atum é Baía Azul, a estonteante praia de Benguela, por exemplo.

Para quem não gosta de carne vermelha como eu, as opções diminuem, mas ainda há muitas alternativas, todas saborosas. A minha preferida é a Camacupa, de mussarela, manjericão e tomate, ou seja, a boa e velha margherita. Pode-se escolher dois sabores por pizza, então eu geral faço uma combinação light: Camacupa com Maiombe, ou seja, margherita com pizza de alho frito. Outra favorita é a Ilha de Luanda, de camarão, deliciosa. Independentemente do recheio, basta dizer que a massa é finíssima, impecável, comme il faut.


Eu gosto da minha pizza mais careta, seguindo a receita à risca, mas se você quiser, pode pedir vários ingredientes extras, pagando a mais. Se você estiver realmente com fome, pode pedir a pizza com borda de catupiry, o famoso e tradicional requeijão cremoso brasileiro. O catupiry enche, mas pode ser uma ótima opção para equilibrar pizzas de sabores mais fortes, como a de atum.



Exclusividade da casa: a Capricciosa serve na mesa, junto com a pizza, um molho de mel com pimenta feito artesanalmente no Capão, Bahia, que tem um gosto muito marcante e específico. Mais uma vez depende de como você aprecia a pizza: eu prefiro comer sem para apreciar o sabor da receita e, na última fatia, pôr um pouco do molho para não passar em branco.  Se você realmente tiver que temperar a sua pizza, melhor pôe esse molho do que ketchup, não é mesmo?

Dica: a Capricciosa também funciona como take-away (você liga e passa para pegar a pizza) e delivery (entregam na sua casa). Olha o mapinha e os telefones abaixo. Clica que abre.


(NOTA: O meu chefe é marido de uma das sócias da Capricciosa. Esse aqui é um blog pessoal e independente, mas é bom vocês saberem).

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Espaço Luanda

Na capital angolana a maioria dos lugares para comer segue o estilo do Espaço Luanda: na dúvida, se um restaurante não diz claramente a sua especialidade, o cardápio será português ou de adaptações de comida portuguesa ao gosto angolano. Nada mais natural: 37 anos de independência não são nada e Portugal continua muito presente aqui, como a metrópole que não deixou de ser para os angolanos. É para lá que eles vão quando querem fazer compras, ir ao médico, tirar férias, estudar. Os portugueses continuam aqui em grande número. São os trabalhadores em fuga da crise nos mais diversos setores na Europa e os lusoangolanos, descendentes de portugueses nascidos por cá que viveram a vida toda entre os dois países.

O cardápio do Espaço Luanda pode ser comum, mas não a qualidade. O local funciona numa bela e ampla casa de paredes vermelhas, com mesas internas e internas. Na parte de dentro, um cômodo reservado ao staff fica exatamente no meio do ambiente, o que impede que o local se transforme num único salão e faz com que em alguns lugares sejam mais confortáveis para quem não quer ficar ligado na música ao vivo que rola num pequeno palco ali. Vale a pena ficar perto. O som não é tão alto e a música é razoável. O lugar também é muito seguro para estacionar, já que compartilha uma aŕea comum com a Escola Nacional de Hotelaria e o Hotel Monalisa. Fica atrás do SIAC, é facinho de chegar (tem mapinha nosite).


Vamos então ao tal cardápio: comecei com uma entrada sempre excelente, choco empanado, ou panado, como se diz aqui. O choco é um molusco com uma grande cabeça e tentáculos minúsculos que não existe no Brasil e em todas as Américas, mas é uma especialidade angolana. Dizem que há mais de 100 espécies, e a costa angolana tem uma especial, que dizem ser a mais saborosa. Eu adoro choco, e é um ótimo petisco, frito ou panado, ou mesmo um prato principal, servido grelhado. Mas deixa para comer no restaurante. Já tentei fazer e é muito complicado, fica borrachudo. Deixe o preparo para os profissionais. A entrada de choco do Espaço Luanda é muito bem servida, dá para três pessoas.





Como prato principal, muita gente pediu carne, e ficaram todos muito satisfeitos. Vocês sabem que não é a minha, então mirei num caril de camarão – camarão ao curry -, que, apesar de ter fama de ser indiano, com o comércio pós grandes navegações, entrou de vez na culinária portuguesa. O prato é muito, muito bom, com um molho bem cremoso e saboroso e camarões bem grandes, mas a porção servida vem numa panela, e claramente serve duas, ou mesmo três pessoas. Não é prato individual, e eu mesmo na gulodice para não desperdiçar um prato tão bom não consegui comer tudo. Se for pedir o caril, divida com alguém. Na minha mesa também pediram salada de camarão – não agradou muito – e, obviamente, bacalhau, um deles no pão.



Para a sobremesa não são muitas as opções. Valeria a pena um pouco de criatividade para ir além desse menu básico. Eu fui de hot fudge brownie, bem honesto, mas provavelmente excessivo depois da refeição pesada que eu fiz (mas aí o erro de julgamento foi meu). Mas, enfim... Boa comida, pá.