sexta-feira, 14 de junho de 2013

Al-Amir


Tá com fome? Tá com pressa? Má notícia. Luanda não tem um fast-food a cada esquina. Nada de McDonald's e Burger King... Mesmo as cadeias que já chegaram ao país, Bob's e KFC, só têm duas lojas: uma no shopping e a segunda na Ilha e no Aeroporto, respectivamente. Pela manhã, a opção são as pastelarias, cheias de doces portugueses, mas se você quiser fazer aquele lanche rápido, comer um bom sanduíche ou matar aquela fome às 11h da noite, você só tem uma escolha: comida libanesa. Em Talatona ainda há poucas opções (basicamente o KFF, e dois restaurantes na entrada do Nova Vida), mas na cidade são vários os lugares abertos até meia noite e que trocam o hamburger pela fahita. O melhor deles e mais tradicional é o Al-Amir. 


Aliás, as casas de fahita já não são exclusividade da comunidade libanesa. Até pela falta de opções, a fahita pegou por aqui, e já são vários os estabelecimentos angolanos que tentam imitar o sanduíche, quase sempre trocando o pão árabe pelo pão normal. Outros, verdadeiramente libaneses, como o Ana Plaza, já abriram mão dos pratos mais tradicionais e apostam tudo na fahita. É um fenômeno local, com todo tipo de qualidade. Eu, que sou mais careta, vou sempre ao Al-Amir por um simples motivo. É o melhor hommus da cidade.

O Al-Amir fica perto do Largo do Primeiro de Maio, onde está a estátua de Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola. Indo direção à Av. Combatentes, vire à esquerda no Chamavo e pronto, o Al-Amir estará à sua direita. O lugar é igualzinho aos outros libaneses: um réchaud, os libaneses gritando entre si na cozinha aberta, um clima de gordura no ar, televisão ligada no futebol ou na TV5 Monde e gente entrando e saindo o tempo todo. Em segundo ambiente, mais para dentro, é bem mais calmo, mas eu prefiro ficar no meio da confusão mesmo, olhando as pessoas.


Como havia falado, o hommus é excelente, e eu sempre começo por ele. Como é um dos poucos libaneses que ainda servem vários tipos de comida, há muitos patrícios – que se concentram lá e no Al-Dar. Ao contrário de lugares como King Kabab, o hommus do Al-Amir vem só com pão, sem acompanhamento de salada. É leve, suave, sem exagerar nos temperos; é comum o hommus estar com gosto de alho mais forte que o normal, mas não aqui. Duas pessoas partilham a entrada tranquilamente, até porque o sanduíche vem rápido. 


Justamente o sanduíche: todo mundo pede fahita, e o prato se popularizou tanto por aqui que nem sei mais qual a receita original. Cada lugar serve de um jeito, virou praticamente um prato angolano, em clássico luandense. Já vi até com batata frita dentro. No Al-Amir, na maioria das vezes, há carne ou frango, cebola, tomate, pimentão, picles, e uma maionese misturada com abacate, meio guacamole. É bem condimentado, e em geral eu peço outra coisa.

Os meus preferidos são o Francisco – é uma fahita com um molho mais leve, menos temperos, um pouco de milho – e o Chinese Picante, que, pelo gosto, incorpora um pouco de molho de soja e tem mais pimentões, sem o picles e o tal molho de abacate. Você pode pedir o sanduíche puro, ou acompanhado com batata frita e salada. Se tiver comido o hommus antes, recomendo que não peça acompanhamentos. É muita comida.


Eu sou um amador, vocês sabem, e não posso julgar o quão autenticamente libanês esse menu é em termos dos sanduíches, mas há vários outros pratos que atestam a legitimidade dessa cozinha: a kafta, os charutinhos de folha de uva... E se você é brasileiro como eu, vai com fé que tem kibe. Ultimamente, em vez do sanduíche, tenho pedido falafel com salada ou, melhor ainda, falafel no pão, como um sanduíche. Crocante, sequinho, impecável.


Já havia dito que os libaneses são os únicos lugares pra comer abertos até mais tarde. Por isso mesmo, você pode comer com mais calma nessas horas. Não costumo comer sobremesa no Al-Amir, mas em geral há bolos no mostruário. Não gosto, são bastante secos e esponjosos, mas você pode tentar o Al-Dar ou o Bel France se quiser completar a refeição até o fim, com sobremesa. Como a comida salgada realmente mata a fome com autoridade, acabo dispensando.