quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Mulemba

Não sei o porquê, mas hoje deu vontade de tirar o pó desse blog. Fui a um restaurante que não conhecia, e embora a experiência não tenha sido nem perto de excelente, o lugar me chamou a atenção a ponto de dar vontade de escrever. O tal restaurante é o Mulemba, do Executive Hotel Samba, que fica do lado do mar. 

Sabia que havia um restaurante ali porque estava na lista da Luanda Restaurant Week, mas não li nada a respeito. Pela localização, imaginava um lugar iluminado, de frente pra praia, talvez algo parecido com o Origami, do Sana. Ledo engano: fiquei impressionado como um hotel naquele espaço não apenas não capitaliza a localização, como vai num sentido completamente contrário de ambientação. 



Começa no hall do hotel e se intensifica no restaurante, que fica logo no térreo/rês-de-chão: colres pesadas, decoração sombria, quadros a imitar Turner nas paredes, móveis de madeira escura e umas cadeiras transparentes em bordô. A luz, bem abaixo do aceitável, ajuda a criar, em plena Luanda, uma melancolia de Inglaterra dos anos 70, como se a gente fosse personagem de algum filme de época adaptado de John Le Carré. Aliás, um lugar vazio como esse é perfeito para conspirações como as dos livros do autor de romances de espionagem. 



Embora seja difícil não prestar atenção o tempo todo nos detalhes dessa ambientação atípica, a quebra do clima vem no menu, que te traz de volta para a Luanda de sempre e seus pratos portugueses com toques locais. Os twists angolanos, no entanto, são interessantes: entre as sopas, um gazpacho com ginguba, razoável. Das entradas, provei um tempura de camarões e legumes, aliás, de camarão (um só) e cebolas. Eu perdôo a economia, estava sequinho, sem gosto de gordura, bem crocante. Provei também uma salada de queijo, que em vez do tomate habitual da caprese, trazia berinjela. Bom. 

Prato principal: eu saí de casa querendo comer um bom risoto, e é algo que em Luanda se encontra em restaurantes de hotel. Pedi o de cogumelos e aspargos, ou espargos, como se diz aqui. Veio o de camarões, mais uma vez bem económico no que diz respeito aos camarões, mas bem razoável no todo. Na mesa, pediram também um magret de pato com legumes, estruturado com delicadeza pelo chef. Agradou. 



Na próxima vez, quero pedir o tal atum do Namibe, mesmo que tenha de dispensar o acompanhamento, um funje de milho. Não gosto de funje, mesmo. A maioria dos pratos é assim: uma carne ou peixe grelhada com um toque angolano, como o funje, a gimboa que acompanha o bacalhau, ou a moamba, em vários outros pratos.

Dentre as sobremesas, o mais local era uma salada de frutas com gelado de múcua. A essa hora da noite, preferi passar, já que não quis passar uma noite aziaga. Fui no bolo-tarte de morango e hortelã com um doce de ginguba - e torci pro morango ser do Lubango ou do Huambo, para não perder o tal twist angolano. Na próxima, tento outra coisa, já que não vale grande coisa, e o choque de sabores entre o morango e a hortelã não se concretiza. Este último elemento é só uma folha por cima, na decoração, e já está.

Se eu recomendo uma visita? Depende. Acho discreto para um jantar de negócios, talvez, mas meio deprimente no todo - as paredes cinzentas e a luz são realmente opressoras. Não sei se é porque é quarta, mas só havia alguns hóspedes jantando sozinhos, em silêncio, em mesas do canto, implorando para que não lhes fosse dirigida a palavra. O atendimento é aquela coisa: troca de pedidos, menu sem vários pratos disponíveis... Mas isso é denominador comum por aqui, então nem reclamo mais. Eu voltarei, ocasionalmente, sem maiores expectativas.