terça-feira, 20 de agosto de 2013

Ciao & La Bella Nápoles

Em geral tenho postado opções de restaurantes aqui que extrapolam a noção de um preço justo, e que só se tornam mais razoáveis quando pensamos que de fato estamos em Luanda e essa é a cidade mais cara do mundo, e que até bibocas chinfrins se acham no direito de te meter a faca no pescoço e te assaltar com os valores absurdos estampados nos seus cardápios. Quem acaba ficando por muito tempo por aqui, no entanto, acaba achando os seus providenciais portos seguros pra comer uma refeição boa e barata. O meu porto seguro, atualmente, é o Ciao, uma pizzaria que fica na Ingombota para onde vou sempre que quero comer... não, não é a pizza que me faz ir lá, e sim as massas.




Não há nada de especialmente sofisticado nessas massas, ou qualquer receita que desafie um paladar mais gourmet. Não, o Ciao é comfort food italiana, feita por um chef vindo diretamente da Bota, o que se reflete na qualidade da preparação dos pratos, mas não na variedade. Não seria esse o obejtivo mesmo, já que num ambiente familiar, com cara de cantina e toalhas de mesa quadriculadas em vermelho e branco, o que basta é ser saboroso, e não complexo.






Eu, por exemplo, não me canso de ir lá apenas para comer spaghetti alho e óleo, por módicos 1500 kz. A massa está sempre impecável, al dente, com o tempo de cozedura perfeito. O que mais posso querer? Já que não como carne vermelha, acabo sempre pedindo alho e óleo, arrabiata (bem apimentada, mais que o normal) e a minha preferida de todas, putanesca, com bastante azeitona. Há uma receita maravilhosa que costumo pedir sem a linguiça: orelhinhas de massa com brocólis e cogumelos. Atenção que essas massas são servidas apenas ao jantar. No almoço, apenas prata do dia e obviedades lusoangolanas. 




É tudo muito simples no lugar, mas o bom gosto é evidente. A pizzaria fica numa esquina próxima à Igreja do Carmo, com prédio cor de laranja. No térreo, quem vê através do vidro encontra apenas uma pastelaria, mas o restaurante mesmo está no primeiro andar, após um breve lance de escadas. O que você vai economizar na massa pode aproveitar para gastar numa boa entrada. Eu, particularmente, adoro o antipasto italiano, um mix de pães, frios e vegetais servidos numa só bandeja, bem grande.

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A depender do dia, você também pode ter boa sorte no La Bella Nápoles, um italiano que fica na Rei Katyavala, Maculusso, mais ou menos entre dois restaurantes libaneses, o King Kabab (sic) e o Tropical (o primeiro é bom; evite o segundo). Não confundir com outra unidade do La Bella Nápoles, que fica na ladeira em frente ao Cine Tropical, e que funciona apenas servido pizza junto a um outro restaurante italiano geminado, o Don Castellana, que é excelente. Aparentemente, são todos do mesmo dono, mas o La Bella Nápoles da Katyavala tem um menu notadamente mais pobre que o Don Castellana, como se fosse uma versão lite.












No térreo, aberto, o clima é de confusão, especialmente no almoço, quando as pessoas se viram o prato do dia e saem com pressa, de volta aos seus trabalhos. O restaurante, em tese, mais chic, também fica no primeiro andar, embora não haja clima que sobreviva a uma televisão ligada na parede. O menu tem mudado bastante, mas na última vez comi uma bruschetta e uma massa de frutos do mar, honestas, mas nada realmente especial.

sábado, 3 de agosto de 2013

Sushi Point

O atendimento nos restaurantes em Luanda, salvo honrosas exceções, costuma ser muito ruim. Depois de algum tempo a gente passa a relevar, com um pouco de condescendência: "isso é Angola...". O problema é que às vezes a coisa passa tanto dos limites que você acaba saindo do restaurante sem sequer ter conseguido comer. Ontem, na reinauguração do Sushi Point, acabei dando um WO após uma hora e vinte minutos esperando a comida. Não tem como passar a mão na cabeça diante de tanto despreparo.

O Sushi Point é um restaurante japonês que abriu bem recentemente, dentro do condomínio Palanca, e agora se mudou para o Vila Araújo, em parceria com um restaurante português que já existia no local. Apesar do atendimento ser um fiasco, o Sushi Point tem conseguido estar sempre cheio graças à presença constante de bandas brasileiras, que tocam música da terrinha pra galera que precisa se convencer, por algumas horas, que não está a viver no estrangeiro. Faz parte do pacote do banzo, eu entendo.

A música sempre toca alto, e goste-se ou não do som (uma hora você vai gostar e a outra não, já que o repertório costuma ir de neosertanejo a pop-rock dos anos 80), o volume está sempre uns decibéis acima do normal, fazendo com que a gente tenha que conversar gritando um pouco.

Como a música virou show, e não ambientação, é natural que o Sushi Point tenha muito mais clima de barzinho pré-balada que acidentalmente serve comida, e não um restaurante a sério. Você sai de casa pra ver alguns amigos, matar a saudade de casa, mas se o seu lance for comida mesmo, esse não é o seu lugar.

Dessa vez eu não consegui comer, mas quando o restaurante estava no Palanca, pedi um temaki (pra entrar no clima, já que o lugar é bem mais uma temakeria que um restaurante), sashimi e niguiri. Naquele dia a comida chegou com um atraso de uma hora, e ainda chegou errado, com garçons confusos, que não sabiam se havia polvo na cozinha, etc. Fiquei bem irritado, mas a comida chegou, e pela foto dá pra ver a qualidade do salmão. O sashimi chegou despedaçado, mal cortado.



Ontem, para evitar transtornos, pedi um combinado, já que, pensei, eles devem funcionar melhor nessa base do pacote, com menos pedidos. Ledo engano. Passavam ao nosso lado barca atrás de barca, como só as mesas grandes tivessem prioridade, e nada do nosso pedido chegar. Os novos parceiros do projeto vinham à mesa, justificar o atraso dizendo que não esperavam esse movimento, mas o Sushi Point vinha funcionando cheio semana após semana, sem qualquer melhoria.

Eu, se fosse o dono, não insistia nesse improviso de louco de colocar um restaurante para funcionar assim, na tora, sem gente preparada para atender nem uma cozinha que dê conta dos pedidos em tempo hábil. Óbvio que com a casa cheia e o dinheiro entrando, a tendência é querer continuar, mas a paciência do público tem limite. E se a aposta for música e convívio, a moda também passa, especialmente quando as pessoas escutam a mesma banda todo fim de semana, por meses seguidos. A hora de se profissionalizar é agora.

Para quem quiser ver de perto, o Vila Araújo fica na mesma Rua da Maxi, só que do outro lado, logo antes do Hotel 3J (que tem um restaurante bem razoável; qualquer dia eu falo dele aqui). Abaixo, o cardápio.